sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Um rapaz e o seu boné

O rapaz e o seu boné

Tenho um certo fascínio por estes bonés. Talvez porque me evoquem o homem britânico, talvez porque me evoquem o homem alentejano. O primeiro é um fascínio infantil – que ainda sinto quando percorro as ruas de Londres – que me remete para padrões axadrezados, aquele delicioso sotaque e a concretização de que o verdadeiro cavalheiro… é o cavalheiro britânico. Qual fascínio antigo pelo Roger Moore, qual admiração pacifista pelo Gary Lineker [que em toda a carreira não viu um único cartão amarelo (como é que é possível?!)] a provar que até mesmo no que diz respeito ao futebol aquela ilha não é feita apenas de selvagens agressivos (e já agora…dêem lá uma vista de olhos nestes supostos…). O segundo, a consequência óbvia de umas quantas costelas alentejanas e da presença assídua lá em casa, dum grupo de amigos dos meus pais que faz gala em acentuar um sotaque que, uns já o perderam outros nunca o tiveram e que, à medida que as suas faces vão rosando, mais insistem em se tratar por “compadre” e entoar cânticos, à real imagem e medida dum daqueles bonitos anúncios ao Azeite Gallo.

Agrada-me particularmente ver homens jovens com estes bonés. E confesso-vos, se não me fizessem ar de parvo usava-os diariamente. Tanto gosto que já tinha escrito aqui, há coisa de um ano, em Um homem e o seu boné

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

domingo, 14 de fevereiro de 2010

O Valentim é um gajo tramado



(aos meus amigos)

O Valentim é um gajo tramado. Deixa uns felizes e outros nostálgicos. Ainda há dias me bateu uma certa melancolia por não ter que fazer qualquer telefonema antes de marcar férias. Não ter que dar satisfações faz muito o meu género mas confesso que senti falta da obrigatoriedade de, antes de perguntar aos meus colegas quando as iriam gozar, fazer a tal chamada à tal pessoa para tentar elaborar um plano A, B e C de calendarização de viagens, momentos divertidos num destino desconhecido e sexo num quarto de hotel.

A rondar os 30 metade dos meus amigos tenta perceber se preferia ter passado a noite de ontem a tentar transmitir o quanto se gosta de alguém a esse mesmo alguém, se a dosear álcool e charme na festa de solteiros que organizámos. Metade dos meus amigos não sabe se preferia passar os fins-de-semana numa doce e repetitiva calmaria se a tentar dormir com a metade da cidade com que ainda não se deitou. Esta treta do mundo globalizado é muito engraçada mas o conceito de “estar ligado” a toda a hora e a todo o mundo pode tornar-se um bocado assustador quando se fala de amor. Temos 1001 solicitações, 1001 hipóteses e 1001 alternativas e isso faz com que a condição de solteiro se torne num admirável mundo novo de oportunidades engraçadas, festas exóticas e experiências sexuais inauditas. É claro que é precisamente a existência desse custo de oportunidade que mais valor dá ao momento em que decidimos escolher alguém para ficar ao nosso lado, e soar-me-á sempre um tanto ou quanto dúbio, nos dias que correm, que alguém se queixe de não ter tido oportunidade de conhecer o mundo (e quem o povoa) em dose suficiente para que tivesse podido fazer a sua escolha acertada. No outro dia um amigo falava-me na sua nova namorada e o meu primeiro reflexo foi – enquanto metade do meu cérebro gritava à outra “até tu Brutus?” – perguntar se tinha Facebook. Quando me respondeu que não, achei que era uma das melhores qualidades que se podia encontrar numa namorada – não ter Facebook – nem que fosse para evitar um dia, quando tudo acabar, darmos por nós a fazer a triste figura de entrar na sua página e tentar perceber quantas pessoas mais interessantes que nós (entenda-se, com uma fotografia de perfil mais apelativa que a nossa) já adicionou depois de nos dar com os pés.

Os trinta parecem ter o seu encanto. A linha abdominal ainda se confunde com a daqueles miúdos giros que, mais semana menos semana, começam a povoar as praias da Linha e as áreas de cabelo esbranquiçado que aparecem sem avisar parecem conferir-nos algum charme. Sabemos mais, vivemos mais mas nada me assegura – e isto, confesso, já me assusta – que daqui a dez anos não nos estejamos a tentar vender o mesmíssimo discurso em frente ao mesmo espelho, enquanto apreciamos a mesma linha abdominal mais dilatada e nos concentramos, não na mesma descoloração do cabelo, mas na sua inexistência. E aí recordo com receio, o discurso de um antigo colega meu, solteirão eterno, que me conseguia perturbar com o seu orgulho macabro no número de mulheres casadas que dizia já ter comido. A mesma perturbação que senti no outro dia, no buffet de Serralves, por culpa duma linda quarentona que lá estava sentada. O olhar daquela senhora tão distinta fazia-me sentir também distinto e, imagino, que o meu olhar de miúdo a fizesse sentir mais viva. Dizia-me uma amiga que tudo isto é normal e que o importante, como tudo na vida, é traçar os limites e encontrar um equilíbrio. A mim nada disto me parece tão claro e imagino esse equilíbrio tão Yin-yang a resvalar, de um momento para o outro, para um malabarismo circense ou mesmo, se me permitem a badalhoquice, para uma casa de banho pública. Só sei que momentos depois, quando chegaram marido e filhos e aquele homem se apercebeu do que interrompia, me limitei a baixar a cara, mais por vergonha que por receio de apanhar um murro bem dado. O mesmo murro que me esforçaria por conter se fosse dar com um puto, com pelos na cara mas imberbe de espírito, entretido a revitalizar o sex appeal da minha mulher.

O Miguel Esteves Cardoso escreveu um dia que “O amor é fodido” e eu deduzo que não o tenha feito apenas para conseguir vender exemplares a miúdas de 15 anos como aquela de quem eu gostava quando o livro saiu. Sou o primeiro a plagiá-lo mas não foi isso que senti a semana passada quando fui visitar o amigo que me traduzia os textos para a versão inglesa do blogue. Ia decidido a recorrer a tudo para o convencer a voltar a fazê-lo mas quando lá cheguei, deparei-me com 15 meses de vida e um sorriso desdentado a correr desajeitadamente para os braços dele. E naquele momento senti-me ridículo. Senti-me ridículo por me ter passado pela cabeça fazê-lo gastar tempo da sua paternidade com a porcaria dos meus textos. Andámos juntos na escola, partilhámos carteiras e fizemos os mesmos trocadilhos irritantes que esgotavam a paciência à nossa professora de Inglês. Quando foi viver com a namorada ainda eu nem sabia bem o que era ter uma e no dia do seu casamento ocorreu-me, antes de mais nada, toda a liberdade que estava a pôr de lado. Mas hoje, as contas que faço são outras e, para ser completamente franco, invejo-o em parte. E neste ponto recordo-me de um outro amigo e do que ele me contou um dia. Um dia, um outro dia, quando uma namorada sua deixou cair o corpo nu por cima do dele e lhe disse ao ouvido, num tom tão terno que ele só julgava existir na voz da sua mãe:
- Foi tão bom Zé.
E naquele momento, mais que o orgasmo, ele achou que ela lhe agradecia tudo o resto: o companheirismo, a ternura, a protecção, as vezes que sorriu pelo sorriso dela, as vezes que chorou com as lágrimas dela e por tudo o resto que nunca teve que fazer mas que ela sabia que ele estaria disposto. É claro que Zés há muitos e amigos imaginários também mas todos sabemos que seja na minha, na vossa vida ou na do meu amigo imaginário são momentos como este que perduram. Mais que engates, noites loucas ou admiráveis histórias para contar em jantares de mancebos. Mais até que as cenas cortadas da vida que não se expõem num blogue. Mas é o que eu vos digo, o Valentim é um gajo fodido

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Juro que não tenho nada a ver com as rosas

Juro que não tenho nada a ver com as rosas

Acho que já o disse aqui. De moda percebo muito pouco e de expressões fashionistas ainda menos. Fotografo o que gosto e o que me apetece e foi com esse intuito que iniciei este blogue. Se dominasse a tal gíria haveria certamente mil e um adjectivos para os empregar aqui. Mas não domino. Por isso mesmo tudo o que me apetece dizer é que, por mais que a imagem o possa sugerir – juro-vos – não fui eu que lhe ofereci aquelas rosas

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

(com todo o respeito...) O velho Ayres

O velho Ayres
O velho Ayres (2)

O neto já me tinha avisado mas não lhe prestei a devida atenção. O Sr. Ayres é um homem especial. Percorre o Porto como se a cidade lhe pertencesse, fala com orgulho dos fatos que já criou e dos colunáveis que já vestiu. Diz o que lhe apetece, da forma que lhe apetece e a quem lhe apetece. Fez troça do meu casaco, de como se vestem algumas figuras públicas e dos miúdos que "perdem horas ao espelho a decidir como se hão-de vestir para que pareça que não se olharam sequer ao espelho" [adaptação de uma frase que me ficou na cabeça (que é o eufemismo para plágio descarado) que li um dia aqui]. Diz que o mais importante num fato são os “ombros e as mangas” e apelida de “farrapada” tudo aquilo que não é feito por medida. Disse muito mais mas estas são as primeiras coisas que me ocorrem. Quando meti a cunha ao neto para o fotografar não podia imaginar alguém assim. Por um motivo muito simples, nunca tinha conhecido ninguém assim

domingo, 7 de fevereiro de 2010

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Tons claros numa cidade escura

Tons claros numa cidade escura

É provavelmente a imagem mais bonita que trago de Londres. Podia ter sido um daqueles bairros cocós hiper arranjados, qualquer um dos parques que lá há ou a soberba italiana que o meu amigo engatou no Chinawhite. Mas não, é esta miúda à chuva.

Acontece imensas vezes dar-me conta de alguém interessante para fotografar tarde de mais para que o possa fazer. Porque encontrou alguém e parou à conversa, porque não me apetece fazer os 30m metros barreiras em plena Rua do Carmo ou porque simplesmente me acanho (também acontece…muito raramente mas também acontece). Com esta miúda foi diferente. Passou por mim, voltei-me e achei que valia todas as diligências adicionais que me fossem possíveis. Mas antes de mim chegou um comercial aguerrido que não descansou enquanto não a convenceu a subscrever uma publicação qualquer. Esperei. Esperei 10 minutos à chuva. Para isto. Tirei 2 fotografias e dei-lhe o cartão do blog. O tempo não estava para conversas. Mas valeu não valeu?

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ayres - Um alfaiate portuense em Savile Row



Este post começou a ser desenhado em pleno dia de Natal quando, espantado por ver uma fotografia deste “vizinho” seu, o Ayres me escreveu dizendo que, se algum dia regressasse a Savile Row, teria todo o prazer em me receber no atelier onde trabalha. Esperem lá, não é bem isto. Assim é que é: este post começou a ser desenhado em 1960, no 120 da Rua Gonçalo Cristóvão no Porto quando um outro Ayres, avô deste que aqui vos trago, abriu a Ayres Alta Costura, onde se vestiam ilustres portuenses como o José Maria Pedroto ou o Francisco Sá Carneiro. Foi neste ambiente que o Ayres cresceu e foi por alturas da sua adolescência que decidiu que rumo queria levar. Ainda hoje, numa das gavetas da sua mesa de corte – a que vêem na foto – traz um livro chamado Sistema Maguidal que aparenta um ar mais gasto que os Missais do século XVIII da minha mãe. Esse livro tem uma morada – a Rua da Palma em Lisboa – e o Ayres desceu até cá para saber se havia quem o pudesse ensinar. O velho Mestre Alfaiate ainda lá estava mas já não se achou em condições de leccionar. “Não consegues em Lisboa vai a Madrid” pensou consigo e foi lá que acabou a fazer um ano de curso intensivo na “La Confianza” (Escuela Superior de Sastreria, Sociedad de Sastres de España) e a trabalhar com o ilustre alfaiate D. Pedro Muñoz (número 72 da Calle Serrano), que quase levou o Ayres à comoção quando lhe disse o mês passado em Florença, em plena Pitti Uomo, que se mantinha informado sobre a carreira do seu pupilo.

Eu tenho 29, o Ayres 28, era de adivinhar alguns pontos em comum Quando cheguei àquela enorme loja e pedi que o chamassem aparece-me um portuense enérgico, com uma camisa colorida e uns suspensórios encarnados – um visual completamente distinto de todos os outros que lá trabalham. Eu gosto de falar de pessoas e a minha condição é a mais simples de todas – gostar delas. E eu gostei do Ayres desde o 1º e-mail. É do Porto mas namora uma lisboeta e Portugal já se sabe, tem semelhanças com um enorme open space. A conversa segue e percebemos que cresci a 300 metros da namorada e que, bem exploradas, as coincidências não ficariam por ali (viriam à baila mais tarde, já no Soho, na companhia do meu melhor amigo e de um vinho branco mediterrênico mas, what happens in London stays in London, não é assim?). O Ayres está na City londrina há mais de 3 anos e quando lá chegou não lhe faltou coragem para ir ao nº1 de Savile Row London procurar trabalho. Acabou compensado, saiu de lá com emprego. Mas o seu futuro arrisco, está na sua marca pessoal – a Ayres – e nos fatos e nas camisas que começou um dia a fazer para os amigos.

No mesmo sítio onde ouvi o Ayres contar-me tudo isto, esteve um dia a Camila Parker Bowles, enquanto o nosso amigo ultimava detalhes para entregar em mão um fato assertoado cinza rato de pura lâ virgem ao Príncipe Carlos. Não tenho queda alguma por personalidades, não encontro sentido nas Zonas VIPs das discotecas portuguesas e dou por mim a não saber o nome de metade das figuras que por lá passam. Mas se vos dissesse que não fiquei impressionado com a ideia de o Príncipe de Gales ter ali estado para que lhe fosse entregue em mão o seu fato novo mentir-vos-ia descaradamente. Quem também se deixou impressionar foram os media portugueses que não o largaram quando souberam disso. Fica aqui este pequeno exemplo que me vai impedir um dia, quando o Ayres for um grande alfaiate lisboeta ou portuense, de dizer “fui eu quem descobriu este gajo”.

Um abraço Ayres. Mas um pedido também. Este fim-de-semana vou finalmente ao Porto, pões-me uma cunha para fotografar o teu avô?