domingo, 30 de agosto de 2009

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Cinque Terre (Corniglia) - Yim



(se não se importam deixo os trapos de lado por um post)

Este miúdo foi a pessoa mais especial que conheci. Começo por desconfiar disso pelos motivos mais fúteis. Dei-me conta que, entre o grupo de viajantes solitários que se juntou espontaneamente em Florença, o Yim goza duma enorme popularidade entre as raparigas. Sempre me senti fascinado por aqueles tipos que, sem terem necessariamente a tromba do Narciso ou a volumetria muscular do Adónis, quase me fazem acreditar que o amor, o jogo de sedução ou o mais tacanho dos engates se regem por uma espécie de meritocracia onde se safa melhor o mais interessante ou bem formado, mesmo quando não exibe necessariamente a largura de ideal entre ombros, os lábios mais carnudos ou o olhar mais vibrante.

O Yin foi-me apresentado como “Jim from Amesterdam” mas à primeira conversa direita que tenho com ele a minha presunção pseudo-sociológica assume que aquele gajo não pode descender de um emigrante asiático bem sucedido na Holanda. Pergunto-lho pelas suas origens e ele explica-mas com a naturalidade de quem passou uma vida inteira a fazê-lo. O Yim nasceu na Coreia do Sul e foi abandonado pela mãe num orfanato. Aos 3 meses é adoptado por um casal holandês que, 3 anos depois, decide a repetir a experiência com uma criança da Serra Leoa. “So it’s me and my black brother” conclui sorridente. Vem-me à lembrança uma amizade holandesa de olhos em bico que fiz em miúdo na praia da Calada e ocorre-me o pensamento saloio:
- That’s normal in Holland!
Ele ri-se, abana a cabeça, explica o quão pouco convencional consegue ser a sua família no bairro finório de Amesterdão onde vive e, com uma gargalhada apenas, deita por terra a minha concepção de admirável mundo novo holandês.

O Yin seguiu para Cinque Terre com o Mike. Apetece-me gozar mais um dia de Florença e prometo que me junto a eles no dia seguinte. Já achei mais graça às histórias sobre as acrobacias horizontais que o Mike protagonizou com metade das cheerleaders da sua equipa de futebol americano e declino delicadamente seguir com ele para Nice. No fundo fico feliz por ficar eu e o Yin. Quando se espera da amizade um sentimento de partilha e compreensão mútua que a idade torna casa vez mais rara, fico contente por, mesmo com a leve barreira linguística de permeio, me sentir capaz de reviver tais partilhas. Passamos as noites a trocar os cromos das nossas sortes enquanto partilhamos uma garrafa de branco, ouvimos os grilos e balançamos as pernas sobre o mar, sentados na torre da minúscula Corniglia. E é aí mesmo que na ultima noite, meio vindo do nada, o Yim me conta que perdeu o pai faz dois meses. Penso nas 1001 perguntas que lhe fiz sobre a família e toda a curiosidade parola que demonstrei pelo seu suposto exotismo. Numa viagem onde toda a gente me conta a sua vida pessoal, sexual e afectiva após 10 minutos de conversa este gajo precisou de quase uma semana para me contar aquilo que lhe devia tomar o pensamento em todos os momentos que o apanhei a cismar. E sabem que mais...os Clã que me desculpem mas os versos "A língua inglesa fica sempre bem E nunca atraiçoa ninguém" não se adequam aqui. Falar inglês não me ajuda e acabo por experimentar o meu maior problema de expressão. No dia seguinte despedimo-nos entre o bulício da estação de Milano Centrale. Olho para trás e sinto um misto de tristeza e remorso por não ter pousado a mochila antes de o abraçar

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Cinque Terre (Vernazza) - Un bello ragazzo italiano (visual mediterrânico)

Look mediterrânico
Un bello ragazzo italiano

Cinque Terre é um sítio especial. Cinco pequenas localidades ligadas por trilhos relativamente estreitos desenhados nas escarpas que caiem sobre o Mediterrânico. Comento com o Yim – de quem vos conto vir a falar – que tenho pena de não ter encontrado ainda ninguém para fotografar. Tenho centenas de fotografias pessoais mas já que fiz questão de vos trazer aqui a minha viagem seria uma pena não ter ao menos uma desculpa para vos falar desta terra. Tenho por resposta imediata:
- Man…you have to find a beautiful girl to your blog.

Encontro-a minutos depois. Está com o namorado. Faço aquele exercício saudável de me pôr na pele dos outros; imagino-me a olhar de lado para qualquer cromo que me aparecesse à frente a dizer que gostaria de fotografar a minha namorada e acabo a sugerir (inspirado por aquela célebre máxima do Lavoisier e por umas calças brancas que nunca me consegui convencer a usar)…fotografá-lo a ele

domingo, 23 de agosto de 2009

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Australian girls are awesome

Australian girls are awesome
Emma

É impossível estar em Florença e não pensar naqueles velhotes deliciosos enfiados em fatos impecavelmente talhados à sua medida, nos lenços na lapela que usam com a mesma naturalidade que nós usamos gravatas e nas meias de cores mais garridas que as colecções da Agatha Ruiz de la Prada. Um editor de moda do la Repubblica recorda-me: “Firenze non è Pitti Uomo”. É verdade, a rua mostra uma realidade completamente diferente. Até um homem de casaco se torna difícil de encontrar. Não os censuro. Estão 37ºC e uma humidade insuportável. Olho à volta e só vejo turistas. Mini-saias, havaianas, alças, bíceps desnudos, decotes suados e ombros descobertos. A Emma aparece à minha frente. Olho para ela e pergunto-me:
- Mas afinal de contas…do que é que te estás a queixar?

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

terça-feira, 18 de agosto de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Florença - Vestido turquesa

turquesa / turquoise

Já lá vão mais de vinte anos. Saímos para jantar numa noite de Verão. Por cima da pele morena a minha mãe levava um vestido turquesa. Desde esse dia que não há cor que goste mais de ver numa mulher

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

48 horas bipolares

Fui de propósito a Génova comprar uma máquina nova. Achei que já que tinha que o fazer, que fizesse um pequeno upgrade…e acabo a gastar um ordenado inteiro numa máquina e lente novas. Não é que sejam excepcionais, eu é que também não ganho muito (sei que o meu director volta e meia visita o blog e eu, na verdade, nunca fui conhecido por ser um gajo subtil…)

Cheguei a Cinque Terre tarde de mais para conseguir alojamento e acabo a implorar para ficar no último sítio onde planeava ficar – parques de campismo. Mesmo com a máquina nova, parece que ainda vivo o momento da noite anterior, e ser rejeitado por não ter tenda começa a deixa-me a moral debilitada. A ideia de me deitar na praia e acordar a meio da noite a ser pontapeado por algum Carabinieri mal disposto não me seduz particularmente e acabo a capitalizar o pouco charme que me resta para convencer o casal de recepcionistas dum dos parques de campismo a deixar-me pagar para dormir ao relento.

Não adianta negá-lo…isto de viajar sozinho é muito bonito mas quando algo corre verdadeiramente mal, ou gastamos meia hora de roaming com o nosso melhor amigo, ou arriscamos uma vulnerabilidade extrema. (apesar de não ser novidade) Dormir ao relento, no meio de famílias em tendas e auto caravanas a olhar-me de lado, com a máquina nova dentro do saco-cama cujo fecho acabo de descobrir que está estragado, não é propriamente a imagem que tinha para as minhas férias.

Na manhã seguinte conheço um Finlandês. A empatia é imediata e o reconforto social anima-me de imediato. Chego a equacionar juntar-me a ele em direcção a Roma mas acabo a seguir por minha conta. Já em Florença procuro um sítio para jantar fora da confusão turística e dou com um belo terraço cheio de italianos. É deste terraço que vos escrevo. Um grupo de florentinos convida-me a brindar com eles e dou comigo a recordar que em Itália, as mulheres bonitas reparam em mim mais que em qualquer outro país (atire a primeira pedra quem nunca encontrou conforto na atenção de estranhos) mas isso, ao invés de me despertar a libido, traz-me à memória apenas aquilo que mais preciso para me animar; quando se viaja sozinho, apenas se está só na medida em que se o deseja. Olho para as últimas 48 horas e, já com a cara de parvo que tão bem me caracteriza, sorrio ao recordar aquela célebre frase da mãe do Forrest Gump: “Life's a box of chocolates, Forrest. You never know what you're gonna get

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

O meu principado por uma máquina fotográfica

Montecarlo

Os dois holandeses de quem fiquei amigo após meia hora de conversa começam a sentir a mesma náusea de que já me venho a queixar. Ali nada soa real ou humano, tudo me parece importado duma janela do Photoshop. Mas o Frisos continua a contabilizar os Lamborghinis e o Julian os Maybachs que não param de passar. Um deles berra qualquer coisa. Desconfio que acabaram de ver o Bugatti que lhes faltava encontrar. No momento em que me volto parece haver um desencontro de vontades entre as ordens do meu cérebro e os reflexos musculares da minha mão direita. A máquina cai. Entre a lente e o corpo não parece haver sobra que se aproveite. 10 segundos depois estou de rabo no chão e mãos na cabeça. Penso nas paredes do meu quarto forradas com gente que conheci nas minhas viagens, na felicidade inusitada que a porcaria dum blog me tem trazido e, principalmente, em tudo o que comprometi ao insistir fazer esta viagem sozinho. É exigir de mais a quem não me conhece que compreenda, mas dou comigo a questionar metade das decisões que tomei no último meio ano. Acabo sensibilizado, primeiro com os impropérios internacionais que oiço à minha volta, e depois, com o silêncio fraterno e as palmas das mãos que sinto nas costas. Digo-lhes que dificilmente conseguiria imaginar um momento como aquele sem lágrimas nos olhos. O telemóvel toca. É a namorada a quem ainda não consigo chamar ex. Já com a visão turva pergunto-lhes:
- What did I just tell you?

terça-feira, 11 de agosto de 2009

domingo, 9 de agosto de 2009

Smells like Saint-Tropez

Saint-Tropez

Saint-Tropez tem pelo menos duas coisas em comum com a Rua Garret. Muita gente para fotografar e pouco espaço para o fazer discretamente. Guardei a máquina na bolsa e só a tirei quando vi este senhor. Lembram-se se ter falado em pólos Lacoste numa esplanada de Saint-Tropez?

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

O outro lado de Cannes

Cannes
Cannes
Cannes





Não lhe consigo achar metade do charme que lhe encontrei quando ali passei há dez anos. Temos um jantar mas ainda há tempo para dar uma volta pela cidade. Até as praias privadas abarrotam de gente. Sinto que estou numa feira de vaidades e perco a vontade de fotografar quem quer que seja. Estes miúdos parecem as únicas duas pessoas naquela cidade a agir descontraidamente. Curiosamente estão a treinar no topo da passadeira que serve de entrada ao festival que faz da cidade mundialmente famosa

O jantar é ao livre. O sitio é brutal. O ambiente é eventualmente um pouco mais cagão do que conseguiria suportar em Lisboa mas ali estou óptimo. Dou graças por me ter lembrado de juntar uma camisa de linho à dúzia de t-shirts de alças que trouxe comigo e vou desfrutando alegremente das atenções de que sou alvo. Não há uma única pessoa sóbria naquela mesa e não consigo deixar de ter a sensação de estar a apanhar uma bebedeira com o grupo de amigos dos meus pais. Há um tipo que se levanta e diz, em tom de ordem, que estamos todos convidados a ir dar uma volta no seu barco. São 3h da manha e estou a fazer a baía de Cannes. Só mesmo uma noite como esta torna possível gostar tanto de passar por uma cidade da qual se gostou tão pouco

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(voilà le capitaine)

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

United Colours of Croisette

United Colours of Croisette

A essência de viajar sozinho não assenta necessariamente em nenhum exercício de misantropia ou qualquer deficit de amigos. Baseia-se essencialmente no puro gosto de viajar sem ter que dar satisfações a ninguém sobre as possibilidades mais absurdas de itinerários que nos ocorrem a cada momento e, essencialmente, pelo potencial de conhecer pessoas novas que representa. Sendo que tenho por “pessoas novas” um conceito bem mais amplo que meia dúzia de gajas boas com fetiches por tipos de mochila as costas. A Joëlle e o Jean-Philippe sorriem para mim mal atiro a mochila para cima do banco. São parisienses e estao a passar as férias na sua casa de praia e têm uma outra numas imediações rurais de Paris onde costumam passar os fins-de-semana. E ao que parece é aí que um tal Toni lhes cuida do Jardim. Recordo-lhes que isso me faz lembrar uma frase do Jean-Marie Le Pen na qual dizia não ter nada contra portugueses...que inclusive tinha alguns a trabalhar no seu jardim. E a conversa continua divertida

Tinha conseguido uma reserva de última hora para 3 noites em Cannes. Dizem-me que não há tanto que ver para 3 dias. Respondo-lhes que quero descansar e tentar viver um pouco das cidades por onde passo. Vou à casa de banho. Quando regresso a Joëlle pergunta-me se não quero ficar com eles. Digo-lhes que não percebo nada de jardinagem. Riem-se e insistem. Asseguram-me que me mostram o que de mais importante houver para ver. Para desgosto da minha mãe tenho mais de sociável que educado; já liguei para Cannes a cancelar

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Marselha - Por falar em Oriente



Não estou acostumado a grandes burburinhos quando digo que sou português, havia ali qualquer coisa a escapar-me... Três delas apontam imediatamente para a amiga e gritam em uníssono num misto de histeria e brincadeira:
- Her boyfriend is portuguese!!
Do Funchal especificou a sortuda. Estas quatro chinesas, que eu assumi japonesas ou sul-coreanas como a esmagadora maioria dos viajantes orientais que com que me cruzo, vivem em Londres. Expliquei-lhe que Lisboa consegue ser uma cidade muito familiar e que, no limite, se o seu namorado tivesse feito escala em Lisboa antes de aterrar em Londres, as probabilidades de nos termos conhecido um dia, quem sabe naquele bar da 24 de Julho onde nos tempos de faculdade devo ter bebido uma ou outra poncha (ou assegurado que aqueles que a beberam tinham alguém 100% cool que os levasse a casa) não eram tão remotas como ela poderia julgar. Antes de nos despedirmos ainda fui a tempo de não perder uma oportunidade única de me gabar que colaboro com uma revista chinesa e, claro está, de tirarmos uma fotografia comigo ali no meio. Uma das mais giras que tenho até agora por sinal